Literatura Infanto-juvenil:resgatando elos na formação do leitor

E o menino com o brilho do sol
Na menina dos olhos
Sorri e estende a mão
Entregando o seu coração
E eu entrego o meu coração
De volta ao começo
Ao fundo do fim
De volta ao começo

De volta ao começo
Gonzaguinha

A palavra ELO vem do latim annellu, que significa anel, argola ou também pode indicar a clássica figura do chamado elo perdido, o espécime que deveria existir entre o macaco e o homem na cadeia evolutiva, de acordo com a teoria de Charles Darwin (SILVA, 2004).
Os seguidores de Darwin tentam provar essa teoria, mas sem êxito. E, muitas vezes, um esqueleto é encontrado numa escavação do outro lado do planeta, logo se espalha a notícia de que se encontrou o tão procurado elo perdido. Contudo, depois de muitas pesquisas, os ossos são classificados como sendo de homem ou de macaco e, então, tudo volta ao começo: onde está elo o perdido?

Carrière (2004) enfatiza que o antiqüíssimo permanece em nós todos os dias e nos leva a agir. E, da mesma forma que, na astrofísica, uma “luz fóssil”, que cintila à nossa volta desde o início dos mundos, é possível ouvir aqui e ali, ao abrirmos bastante os ouvidos, os murmúrios de antes da história. O autor descreve que os sonhos do passado são parentes dos nossos. Se sonhamos que em pleno sono, estamos caindo, isto poderia vir, de tempos muito antigos, quando a espécie humana ainda não tinha evoluído e dormia à noite nas árvores com medo a todo momento.
Desde o início dos tempos, observa-se a indícios da capacidade poética do ser humano. No poema “Da poesia e da extrema tarefa de ser poeta”, Delmino Gritti nos diz: “A prosa antes foi verso, o verso antes foi canto e o canto antes foi grito.
”Para Kirinus (1998) viemos de muito longe, viveremos para sempre e nos multiplicamos cada vez que lemos um poema ou contamos uma história. A autora destaca que os desenhos paleolíticos da pré-história, as palavras oraculares, as fórmulas mágicas, as rezas, os encantamentos, os cânticos de guerra e de trabalho agrícola denotam uma identidade mito-poética no ser humano. Assim, a criança é dotada geneticamente da natureza poética, recebendo desde a vida intra-uterina uma enorme carga sonora e poética:
“A criança, dotada geneticamente da sua natureza mito-poética - o seu inatismo lingüístico engloba a função poética da linguagem -, é receptora, desde os primeiros meses de vida, de toda uma carga sonora ricamente permeada de ritmo e melodia. Ela ouve rimas e estribilhos emitidos pela mãe num tom afetivo/emotivo de alto grau” (KIRINUS,1998, p.27).